A notícia a seguir foi publicada na página: originalmente neste link e teve grande divulgação por meio do site www.clubedexadrez.com.br. O primeiro contato que tivemos com a notícia foi por meio do amigo Arno Cadilhac Junior que teve seu filho Igor Cadilhac citado na matéria como único a vencer o GM Gilberto Milos Jr. em uma das atividades extras do Grand Slam de Xadrez Brazil/Bilbao. A notíca além de tratar de diversos ocorridos com enxadristas renomados e de época traz um pouco da brilhante história do grande GM Magnus Carlsen (foto) -atual número 1 do mundo no ranking da FIDE, e alguns detalhes do maravilhoso evento Grand Slam que teve sua primeira etapa aqui e que além de trazer alguns dos maiores enxadristas de todos os tempos, também trouxe os olhos do mundo inteiro para nosso país e grande organização. Acompanhe a matéria:

Temperamentos em xeque
O número 1 do xadrez perdeu as estribeiras no Parque do
Ibirapuera
por Vanessa Barbara (Matéria original publicada pela revista Piauí)
Havia uma ambulância a postos na tenda principal do 4o
Grand Slam de Xadrez, realizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Intrigados, corredores e ciclistas das imediações acharam graça – afinal, que
tipo de emergência médica poderia acometer aqueles pacatos enxadristas,
confinados num cubo de vidro durante três ou quatro horas, olhos pregados no
tabuleiro?
Mal sabem eles que o xadrez é um esporte dos mais violentos. Talvez nunca
tenham reparado na divisória de madeira que separa as pernas dos oponentes sob a
mesa, prevenindo os enxadristas mais exaltados de agraciar seus adversários com
pontapés. E decerto não conhecem os inúmeros casos de jogadores que sofreram
colapsos nervosos durante as partidas ou enlouqueceram irreversivelmente.
Que o diga o letão Aaron Nimzowitsch. Ao antever uma derrota, ele subiu na
mesa e gritou: “Como posso perder para esse idiota?” Ou o polonês Achilles
Frydman, que foi parar num sanatório após um torneio particularmente exaustivo.
De acordo com um artigo da Chess Digest Magazine, Frydman gostava de
deixar a sala para dar telefonemas internacionais e encomendar objetos
insólitos, como uma bicicleta alemã ou uma flauta húngara. Durante uma
competição na Polônia, correu de cueca pelo hotel, gritando “Fogo!”. Outro caso
irremediável é o do austríaco Wilhelm Steinitz, que alegava ter jogado xadrez
contra Deus – e vencido.
Era reconfortante, afinal, que uma ambulância estivesse de prontidão para a
eventualidade de um ataque de nervos vitimar algum dos enxadristas hospedados em
São Paulo. Eram estrelas de primeira grandeza do xadrez, a começar pelo
norueguês Magnus Carlsen, número 1 do mundo – um rapaz de 21 anos que guarda
semelhança perturbadora com o ator Matt Damon.

Ao longo da semana, houve também atividades abertas ao público, como torneios
simultâneos contra veteranos. Num deles, o grande mestre internacional Gilberto
Milos, terceiro lugar no ranking brasileiro, enfrentou 32 jogadores de todas as
idades. Ganhou 28 partidas, empatou três e perdeu uma. Quem o derrotou foi um
menino franzino de 11 anos chamado Igor Kikuchi Cadilhac, natural de Registro,
interior de São Paulo, que aprendeu a jogar xadrez com o vizinho e não tem
treinador. Suas participações nos torneios são bancadas pelos amigos, familiares
e estabelecimentos registrenses como a Swagat Modas (especializada em roupas
indianas), o Mercado Preço Bom, a Pizzaria Beirute e a Esteiras Yoshimoto. Em
2011, Igor sagrou-se campeão paulista na categoria Sub-12.
Perto dele, brincando com uma garrafa d’água e falando sozinha, estava outra
jovem promessa do xadrez brasileiro – uma menina chamada Katherine Vescovi,
muito magra, pequena e loira, de olhos azuis e jeito de bailarina. Aos 12 anos,
é campeã paulista, brasileira e sul-americana. A despeito de sua aparência
frágil e angelical, enxadristas veteranos garantem: Katherine joga de forma
agressiva e é conhecida por derrotar os adversários de forma impiedosa.
Familia Cadilhac: Arno (pai), Vilma (mãe), Mariane (irmã Campeã Paulista sub-08 2011 e 2012) e Igor (Campeão Paulista Sub-12 2011 e 2012 )

A zebra correu solta no Ibirapuera na terceira rodada. No mesmo dia em que
Ivanchuk bateu o atual campeão Anand, o favorito Magnus Carlsen perdeu para o
espanhol Paco Vallejo, então número 28 do mundo, após um lance de rematada
tolice. Até ali, o jogo estava favorável para Carlsen, não obstante jogasse com
as pretas (no mundo do xadrez, sabe-se que as brancas têm ligeira vantagem no
jogo, pois detêm o privilégio de começar a partida). O norueguês passou muito
tempo tentando forçar a vitória e chegou inclusive a desperdiçar uma chance.
Mas, num apuro de tempo, acabou “pendurando uma peça”, ou seja, cometendo um
erro crasso que lhe custou a partida.
O lance fatídico se deu quando Vallejo ameaçou ingenuamente capturar o bispo
de Carlsen com o cavalo. Teria sido só uma investida aparvalhada se, na
sequência, o norueguês houvesse se esquivado do mensageiro equino da morte como
qualquer amador faria ou, melhor ainda, caso tivesse se saído com um
contra-ataque sofisticado. Em vez disso, “ele viu duendes”, na avaliação de um
popular, e moveu a rainha de forma a deixar seu bispo exposto, pronto para a
degola.
Ao perceber o lapso, Carlsen olhou para os lados como se o mundo tivesse
caído, empurrou algumas peças, esboçou gestos de irritação para o árbitro e a
plateia, e foi tomado pela fúria. Desistiu da partida doze lances depois,
enquanto o elegante Vallejo saía de cena com sua garrafinha de Gatorade cítrico.
Ao final, não deu autógrafos nem tirou fotos.
O algoz de Carlsen era o lanterna do grupo. Em São Paulo, vinha de duas
derrotas consecutivas. Perderia de novo na rodada seguinte, mas nem por isso se
deixou abalar. Vallejo foi um dos mais jovens enxadristas a ser sagrado com o
título de “Grande Mestre”. Em 2000, após ganhar o mundial Sub-18, tomou a
decisão: “Serei jogador profissional, mas não pretendo passar dez horas por dia
treinando. Quero aproveitar a vida.” Dali para a frente, sua carreira progrediu
mais lentamente, para desgosto dos espanhóis.
Três campeões mundiais julgam que Vallejo possui talento suficiente para
estar entre os dez melhores do ranking. Mas ele dispensa esse tipo de ambição.
“Isso implicaria estudar e me dedicar mais, e tenho outros interesses na vida”,
explicou ao público do Ibirapuera, pouco antes do encerramento do torneio. Sobre
o descontrole emocional dos enxadristas diante da derrota, Vallejo aproveitou
para rir de si mesmo: “O bom de perder tanto é que a gente se acostuma e passa a
encarar tudo com mais tranquilidade. Além disso, há maior mérito em se levantar
após uma queda do que em seguir de pé.”
Já Carlsen deu uma entrevista coletiva desolado após perder para o lanterna.
Mas manteve a cabeça erguida. “Eu simplesmente pendurei uma peça. Não sei se
podemos chamar isso de ilusão de óptica.” Mais tarde, no Twitter, considerou
“ultrajante” o fato de ter tido problemas com o tempo e de haver perdido uma
posição vantajosa em poucos lances. Acinte mesmo foi o atentado gastronômico do
qual ele fora vítima em São Paulo. “Servir pizza sem queijo para clientes
desavisados é simplesmente um crime contra a humanidade.”
Veja também:
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